Roberto Amaral: Os ”fetiches ideológicos” da imprensa mainstream

Tempo de leitura: 9 min
07/05/2025: O presidente Lula durante jantar oferecido pelo presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin, no Grande Palácio do Kremlin, em Moscou. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Os “fetiches ideológicos” da imprensa mainstream

Por Roberto Amaral*

Dois fatos relevantes da diplomacia brasileira — a viagem do presidente Lula a Moscou e o sucesso político e econômico das negociações em Beijing — foram reduzidos a “fetiches ideológicos” (O Estado de S. Paulo, 15/5/25).

A imprensa joga às traças a relevância da diplomacia para um país que, a duras penas, tenta pensar com a própria cabeça e caminhar com seus pés, no contrapelo do complexo de vira-lata que intoxica a classe dominante.

O périplo de Lula, principalmente seu encontro com Putin, despertou, na chamada grande imprensa brasileira, um insuspeitado fervor democrático que não poupa de críticas acerbas nosso presidente por haver estado presente nas festividades russas comemorativas da vitória contra o nazifascismo — comemorações as quais, entendem os editorialistas, devem ser patrimônio exclusivo dos EUA.

O comprometimento ideológico ignora que Brasil e Rússia são importantes parceiros comerciais e políticos no BRICS, cujo banco (Novo Banco de Desenvolvimento-NBD), presidido pelo Brasil.

Ignora que Lula não deixou de dar o recado de que somos contra invasão de territórios estrangeiros (princípio inscrito em nossa Constituição) e levou o pedido ucraniano (somos parceiros dos dois beligerantes) por um cessar-fogo.

Ignora sua reiterada defesa da paz — coluna de nossa política externa — e a defesa dos interesses sociais e do multilateralismo, talvez, neste caso, porque isso não agrade aos EUA de hoje.

A iniciativa de Lula pela paz na Europa — que não interessa aos que desprezam os riscos estratégicos em nome dos lucros da indústria bélica em alta — encontrou eco na parceria diplomática com Deng Xiaoping, que se associa no esforço por uma trégua seguida de paz duradoura.

A isso se dá o nome de diplomacia — arte que não foi inventada por Lula e que é cultivada por qualquer nação que se preze, grande ou pequena — e que a competência do Itamaraty vem sustentando com arte e perícia, surdo aos apelos da subalternidade. Mas não pode ser pensada por quem só pensa pequeno.

Apoie o VIOMUNDO

Esta é a questão central: o sistema, estruturado para reproduzir a ideologia mainstream, se irrita com essa teimosia brasileira de traçar seu próprio espaço — o que, afinal, pode pôr em risco interesses do grande capital, mais próximos de Wall Street.

Todas as tentativas anteriores de abrir espaço para uma política própria (no sentido de simplesmente privilegiar os interesses do país) foram combatidas com furor. Assim a política de Vargas; os tímidos ensaios de JK; a política externa de Jânio–Afonso Arinos e de Jango–Santiago Dantas.

E, nos nossos tempos, a política ativa e altiva de Celso Amorim, Samuel Pinheiro Guimarães e Marco Aurélio Garcia, presidida por Lula.

A resistência haveria de ser ainda maior hoje, quando a disputa hegemônica se acirra e a guerra — desde sempre instalada no “mundo que não conta” — atinge em cheio a Europa.

O Estadão não gosta de nossa política externa desde quando ela começou a levantar a cabeça. Não lhe agradam as críticas de Lula aos responsáveis pelo genocídio palestino. Deveríamos, segundo ele, simplesmente lamentá-lo.

Nossa política, no geral, é acusada de antiocidental — de um Ocidente que sucumbe sem grandeza — e faz cara feia para as relações com a China, principal parceiro econômico do Brasil, que, ademais, não impõe taxas adicionais aos nossos produtos e acaba de anunciar investimentos de R$ 27 bilhões (Valor, 13/5/25), além de acordos nas áreas de semicondutores, energia e infraestrutura, e da abertura do mercado chinês para produtos do agro brasileiro.

É o que se lê no próprio Estadão (1º/05/25), no editorial que desanca o presidente Lula. Faltou dizer que, entre os entendimentos logrados, está nosso o direto ao grande mercado do Pacífico, via o porto peruano de Chancay, construído pela China.

A direita brasileira, pela qual fala a grande imprensa, nos quer engajados numa disputa hegemônica de blocos econômicos que não nos diz respeito. E já tem lado. Pode ser que a União Europeia tenha alguma razão para temer e odiar a Rússia — mas nós não temos.

E parece que nem mesmo Trump as cultiva, embora continue interessado em vender armas para tentar salvar um parque industrial obsoleto (sua viagem à Arábia Saudita parece ter-se constituído em um sucesso comercial).

A disputa pela hegemonia se circunscreve à polarização com a China, que nada tem a ver conosco — nada obstante a tragédia geopolítica que nos instala no que antigas e atuais autoridades dos EUA, fiéis à sempre viva Doutrina Monroe, consideram “seu quintal”.

Vivemos a grande vitória ideológica do neoliberalismo, assimilado pelas chamadas elites pensantes, que são as elites dominantes. Assim se explica a alienação dessa imprensa — e da política — em face da questão nacional. E seu real desapreço pela democracia.

No Brasil, a chamada “grande imprensa” — com destaque para O Globo, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo — não apenas defendeu o golpe de 1º de abril de 1964 como logo abraçou a ditadura militar, ao ponto de esconder seus crimes, e, nestes termos, tornar-se cúmplice.

Porque o regime deposto, segundo a visão do Departamento de Estado dos EUA (que supervisionou o golpe), prometia a ascensão das massas em um país que representava algo como metade do continente sul-americano, em plena Guerra Fria e após o acidente sem volta que foi a Revolução Cubana, a tão poucos os da Flórida.

O ativismo antidemocrático e antipopular, porém, vem de longe. Nos meados do século ado, os jornalões, suas emissoras de rádio e de TV foram decisivos na preparação da crise que levou ao golpe militar e ao suicídio de Getúlio Vargas (1954), frustrando o projeto de governo trabalhista-democrático.

Participaram, com a direita militar, da tentativa de impedir a posse de Juscelino Kubitschek (1956) e jamais aceitaram as teses do desenvolvimentismo. Combateram a construção de Brasília, os ensaios de política independente de Jânio Quadros e foram ativos na conspiração que visava impedir a posse de João Goulart (1961).

Não podem, sequer, falar em liberdade de imprensa. Estiveram de mãos dadas na tentativa de calar a voz da Última Hora, o único dos grandes jornais então aliado ao governo Vargas, e buscaram o monopólio dos meios — depois de assegurado o monopólio do discurso.

A grande imprensa brasileira, repito, tem sua história ligada à ditadura instalada em 1º de abril de 1964 e muito contribuiu para a longeva trajetória de 21 anos dos governos da caserna, assim fazendo jus aos dividendos com que foi premiada.

O sistema Globo — jornais, rádios, revistas e televisão — apoiou com entusiasmo o golpe e sustentou o mandarinato militar, até quando se anunciaram os primeiros sinais de seu esgotamento.

Ainda no auge da festa, o general Emílio Garrastazu Médici, ditador nos anos 1969–1974 — certamente a fase mais sangrenta do mando da caserna — encheria de açúcar os ouvidos de Roberto Marinho:
“Sinto-me feliz todas as noites quando ligo a televisão para assistir ao jornal [Nacional]. Enquanto as notícias [internacionais] dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranquilizante após um dia de trabalho.”

A gratidão da caserna, porém, não ficaria apenas nas palavras.

O primeiro canal da hoje poderosíssima Rede Globo iniciou suas operações em abril de 1965, a pouco mais de um ano da instalação do regime militar.

ados vinte anos de apoio incondicional à ditadura — apoio consistente no encobrimento de crimes e na louvação de supostos êxitos — a empresa da família Marinho, tendo eliminado suas principais concorrentes, ocupava o posto de maior rede de televisão do país, com 46 afiliadas e uma audiência que variava entre 60% e 90% dos telespectadores.

O jornal impresso, no Rio, como um Moloch insaciável, consumia seus concorrentes e liderava as tiragens. Hoje, o “Grupo Globo” é o maior conglomerado de mídia da América Latina e um dos maiores e mais diversificados do mundo.

O Estadão e a Folha de S. Paulo foram ainda mais longe, embora mais modestos nos ganhos. O jornal dos Mesquitas não só apoiou o golpe como participou ativamente da conspiração antidemocrática, quando Júlio de Mesquita Filho e Adhemar de Barros fizeram dobradinha. É o que revela o depoimento do general Cordeiro de Farias, conspirador-chefe em São Paulo:

“As fontes principais de arrecadação eram duas: o governador Ademar de Barros e o jornal O Estado de São Paulo, através de Júlio de Mesquita [seu diretor e chefe do clã]. O dinheiro não me era entregue diretamente, e sim a pessoas que eu autorizava.” (Diálogo com Cordeiro de Farias, Aspásia Camargo & Walder de Góes, p. 553).

É este o jornal que, hoje, critica Lula e o acusa de fazer o jogo antidemocrático ao dialogar com os que denomina de “dirigentes autocratas”.

A Folha de S. Paulo, todavia, conseguiu ar a perna no Estadão, numa corrida carente de dignidade. Envolveu-se diretamente na repressão. Cedeu veículos para ações da Operação Bandeirante (Oban) e do DOI-Codi, que resultaram em prisões, torturas e assassinatos de democratas que lutavam contra a ditadura. Deu ainda aos agentes da repressão o livre aos seus arquivos.

Essa imprensa não gosta de nossa política externa, que bate de frente com a subordinação ideológica. Não entende o Mercosul e muito menos os esforços de integração regional. Desprezando a coerência, reclama sem cessar do encontro de Lula com Putin (voltamos a ele), porque o presidente da Rússia, além de “autocrata”, invadiu a Ucrânia. Trata-se, segundo ela, de um “criminoso de guerra”.

Mas essa é a mesma condição do primeiro-ministro sionista de Israel, recentemente recebido com pompa e circunstância na Casa Branca, sem provocar urticária nas almas democráticas de nossos editorialistas.

Em 2003, não se ouviram — nem se leram — restrições à visita de Lula a George W. Bush, que, depois do Afeganistão, acabara de invadir o Iraque sob o consabidamente falso argumento de que Saddam Hussein detinha armas atômicas.

Aliás, mantido o critério de considerar réprobo o presidente de todo país que invade outro Estado soberano, estaremos enredados em sérias dificuldades com os EUA, pois “criminosos de guerra” poderiam ser considerados quase todos os seus presidentes. Ou, por cautela, devem ser ignoradas — exemplos tirados de extenso inventário — as invasões da Coreia, do Vietnã, de Granada, da República Dominicana, do Panamá, do Afeganistão, da Somália, da Síria, da Líbia…?

A grande imprensa brasileira é a voz da classe dominante. Essa de hoje é filha daquela que combateu o monopólio estatal do petróleo, que, de manhã, de tarde e de noite lutou contra a criação da Petrobras, a participação dos empregados nos lucros das empresas, a recuperação do poder de compra do salário-mínimo, e combateu a criação do 13º salário.

É exemplar a manchete (em letras garrafais) de primeira página de O Globo, de 26 de abril de 1962: “Considerado desastroso para o país um 13º salário.”

E ainda hoje é contra a reforma agrária. Desempenha o papel de agente ideológico da contrarrevolução. É-lhe estranho qualquer projeto de soberania e progresso social.

Nosso destino de província sem projeto de ser é, para ela, irrevogável — traçado por um ado que interfere no presente, afastando de nosso horizonte as promessas de futuro.

***

Analfabetismo — Diz o Estadão: “O Brasil tem analfabetos demais.” Já O Globo estampa: “Analfabetismo funcional envergonha Brasil” (ambos em 07/05/2025). A classe dominante faz sua autocrítica? Ou não se percebe como parte decisiva do problema?

Tudo como dantes no Castelo de Abranches — Cumprido seu mandato de todo-poderoso regulador do sistema financeiro (deixando-nos como legado a mais alta taxa de juros do mundo), o banqueiro Campos Neto teve anunciada sua contratação pelo Nubank. Volta para a Faria Lima, de onde, aliás, nunca saiu. A propósito, o Banco Santander registrou no primeiro trimestre de 2025 um lucro líquido de R$ 3,861 bilhões — um aumento de 27,8% em relação ao mesmo período de 2024. Já o Bradesco registrou, no mesmo período, um lucro líquido de R$ 5,86 bilhões, crescimento de 39,3% sobre o trimestre anterior (Valor, 08/05/2025). O Itaú registrou lucro recorde de R$ 11,12 bilhões — salto de 13,9% sobre o semestre anterior (Folha de S.Paulo, 09/05/2025). E la nave va…

A culpa é sempre do mordomo — Coerente com seus interesses de classe, o banqueiro Armindo Fraga, ex-presidente do Banco Central (governo FHC), dá a receita para “colocar o Brasil nos trilhos” e aumentar a riqueza nacional:

“Manter o salário-mínimo, atualmente R$ 1.518,00, sem aumento real por seis anos.” (O Globo, 08/05/2025)

Nesse diapasão, por que não congelar as pensões dos aposentados, manter a cobrança sobre os assalariados de baixa renda e reduzir as alíquotas sobre ganhos de capital, lucros, dividendos e aplicações financeiras?

Ainda o Nubank — Essa fintech, que acaba de contratar o ex-presidente do Banco Central do Brasil, é uma das maiores plataformas de serviços financeiros digitais do mundo. É controlada pela Nu Holdings Ltd., registrada nas Ilhas Cayman, e patrocina nada menos que o Jornal Nacional, da Rede Globo — que emite, de segunda a sábado, um ainda influente noticiário econômico.

Selic na estratosfera — Por obra e graça do Copom, em decisão unânime (portanto, com os votos dos diretores nomeados por Lula), a Selic foi elevada ao patamar de 14,75%, a maior em 20 anos. Ao aumento do custo do capital corresponde o aumento da dívida pública — que, em março, saltou para R$ 7,508 trilhões — e um “equilíbrio fiscal” que manda para as calendas gregas qualquer expectativa de desenvolvimento no médio prazo. Essa dívida financeira, que a banca cobra do governo, é paga por nós, os contribuintes, e custa à grande maioria o adiamento (até quando?) do resgate da nossa obscena dívida social.

*Roberto Amaral foi presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e ministro da  Ciência e Tecnologia do governo Lula. É autor do livro História do presente – conciliação, desigualdade e desafios (Editora Expressão Popular e Books Kindle).

* Com a colaboração de Pedro Amaral

*Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Leia também

Marcelo Zero: Cérebros de segunda classe

Valter Pomar: Jornalões atacam Lula por escolher Moscou para celebrar a vitória contra o nazifascismo

E. P. Cavalcante: Lula em Moscou, trocando em miúdos

Valter Pomar: Lula errou ao ir a Moscou?

Beto Almeida: 40 anos dos Cieps, projeto destruído pela TV Globo em seus 60 anos e o Brasil de castas

Ângela Carrato: TV Globo faz 60 anos, ‘se esquece’ de seu ado com Collor e Renata chora lágrimas de crocodilo

Ricardo Mello: Principal fato do dia está escondido nos cantinhos da grande mídia. VÍDEO

Cristina Serra: A Folha desqualifica quase tudo do governo Lula e valoriza porta-vozes da direita e extrema-direita. VÍDEO

Pedro Augusto Pinho: Quanto custou ao Brasil a derrota eleitoral de Brizola em 1989

VÍDEO: ‘Os militares saíram do carro da Folha de S. Paulo e crau; pegaram a gente’, conta Adriano Diogo, preso em 1973 pela ditadura

Jeferson Miola: Folha de S. Paulo é uma fachada do Partido do rentismo

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

O Grupo Prerrogativas, um coletivo de advogados e juristas brasileiros, acionou na quarta-feira 21 a Procuradoria-Geral da República [PGR] para cobrar a abertura de uma investigação criminal contra o ex-juiz Sergio Moro (atualmente senador), a juíza Gabriela Hardt e o ex-procurador Deltan Dallagnol por suas condutas à frente da Lava Jato.

A decisão de provocar a PGR decorre do que o grupo considera inércia de Paulo Gonet frente ao relatório do Conselho Nacional de Justiça que indicou suspeitas de crimes de peculato, corrupção e prevaricação por parte de magistrados e procuradores da operação.

O CNJ aprovou o documento em junho de 2024 e o encaminhou à PGR e ao Supremo Tribunal Federal. Desde então, porém, não houve qualquer movimentação relevante no caso.

O relatório é o resultado de uma inspeção conduzida pelo CNJ na 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) e no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, responsáveis pelos processos da Lava Jato na primeira e na segunda instâncias, respectivamente.

A investigação identificou condutas que sinalizam “um agir destituído do zelo” por parte dos magistrados em ações judiciais, especialmente aquelas sobre a destinação de valores provenientes de delações premiadas e acordos de leniência.

O procedimento do CNJ apontou, por exemplo, indícios de conluio com o objetivo de destinar valores bilionários para serem usados com exclusividade por integrantes da força-tarefa.

Segundo a apuração, houve uma “gestão caótica” de verbas resultantes de acordos firmados com empresas pelo Ministério Público Federal e homologados pela 13ª Vara.

À CartaCapital, o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do Prerrogativas, afirmou não ser possível fingir que nada aconteceu no comando da Lava Jato.

“Providências urgentes precisam ser adotadas pela PGR.
E como, até o presente momento, nenhuma dessas
providências foi efetivada, resolvemos apresentar essa
medida.”

No ano ado, o CNJ decidiu abrir processos istrativos disciplinares contra quatro magistrados que trabalharam em ações da operação:

– Gabriela Hardt, ex-substituta de Sergio Moro na 13ª Vara;

– Danilo Pereira Júnior, atual titular da 13ª Vara;

– Thompson Flores, desemabrgador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região; e

-Loraci Flores de Lima, desembargador do TRF-4.

Para o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay — um dos signatários da petição à PGR —, os elementos reunidos pelo CNJ não representam apenas “desvios técnicos”, mas um padrão de trabalho que, se confirmado, “compromete pilares fundamentais da legalidade e da imparcialidade do sistema de Justiça”.

https://www.cartacapital.com.br/politica/lava-jato-advogados-veem-inercia-de-gonet-e-cobram-providencias-contra-moro-e-hardt/

Zé Maria

Agronegócio Favorece Desequilíbrio Ambiental
e Climático,
e também Prejudica a Agricultura Familiar”

Para Luiz Marques, Professor do Departamento
de História da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e autor do livro “Capitalismo e Colapso Ambiental”,
o modelo do agronegócio colabora com a emissão
de gases do efeito estufa, o que tem alterado de maneira cada vez mais severa o clima.

O uso de defensivos agrícolas e agrotóxicos também
são prejudiciais para o equilíbrio ambiental.

”Esse modelo agrícola baseado na monocultura
e pecuária bovina voltado para a exportação tem
impacto na destruição da manta vegetal brasileira,
não só a Amazônia mas em outros biomas.
É simplesmente suicida para a própria cultura
do agronegócio, para a sociedade brasileira e
para a nossa biodiversidade”, analisa.

O professor denuncia ainda o papel ”destrutivo”
da agropecuária de gados bovinos, um dos principais
responsáveis pelo desmatamento da Amazônia e
pela produção de metano.
“Esse gado produz uma quantidade brutal de metano,
um dos principais gases que ajudam no efeito estufa,
tendo um impacto de 86 vezes maior de CO2 em um
intervalo de 20 anos. (…) Se você pegar o inventário
da emissão dos gases de efeito estufa no Brasil,
cerca de 75% decorrem da atuação do agronegócio,
com grande preponderância na agropecuária bovina”,
analisa.

Com o avanço no desmatamento, principalmente
na região amazônica, há prejuízo na produção
da umidade, importante para a formação dos
chamados ”rios voadores”, que provoca o equilíbrio
de chuvas para a região centro-sul do país.

Os rios voadores são cursos de água atmosféricos,
formados por massas de ar carregadas com vapores
de água, muitas vezes acompanhados por nuvens e
propagados pelos ventos.

Com a falta de chuvas no norte, que enfrenta uma
seca histórica, os eventos climáticos vêm ficando
cada vez mais extremos, alternando entre secas
com altas temperaturas e enchentes.

O professor Eloy Casagrande, PhD em engenharia
de recursos minerais e meio ambiente pela Universidade
de Nottingham (Inglaterra) e auditor ambiental pelo
EARA, explica que a quantidade de umidade liberada
na Amazônia irriga as chuvas no sul e sudeste.

“A quantidade de água que se desloca da região
amazônica para o sul, sudeste e centro-oeste —
e que às vezes pode chegar a ser maior com a água
evaporada muitas vezes pela copa das árvores —,
pode ser maior que a vazão do Rio Amazonas, cerca
de 200.000m³ por segundo”, conta.

Um artigo publicado em 2019 pelo pesquisador Marcos
Heil Costa, engenheiro com vasta experiência em clima,
uso da terra, ciclo do carbono, água e agricultura no
Brasil Central e Amazônia, cita que o aumento da
estação seca nos estados amazônicos já vem
ameaçando as safras de soja e milho.

Para a agricultura familiar, que possui menos recursos
para lidar com problemas relacionados a secas ou
excesso de chuvas, os impactos climáticos têm
prejudicado a produção.

De acordo com dados do anuário da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares [Contag], as propriedades
de agricultura familiar são quase 3,9 milhões no país,
representando 77% de todos os estabelecimentos
agrícolas, com produção de alimentos chegando a
oitava maior do planeta.

Para a agricultora familiar Elizete Pereira, do “Assentamento “8 de Abril, no Paraná, com as
alterações do clima tem sido difícil planejar
a produção.

“Quando está muito seco, você perde pela falta
de ‘nascer’ [germinação e brotação] e não chover
na hora certa, e não ter possibilidade de irrigação. Quando chove demais, perde feijão, perde arroz”,
diz.

No Paraná, por exemplo, as chuvas acima da média
para a primavera tem causado o aumento nos preços
das hortaliças.

De acordo com o Boletim de Conjuntura Agropecuária, Curitiba, que é responsável por 40,9% das atividades olerícolas [produção de hortifrutigranjeiros como folhas verdes, raízes, tubérculos e frutos], teve um acúmulo de 394 milímetros de chuvas em um mês.
O número é bastante superior à média histórica de 100
a 190 milímetros para o mês de outubro no entorno da capital.

Um levantamento que analisa a variação de preços
dos 30 principais produtos vendidos nas Centrais
de Abastecimento do Paraná (Ceasa), em especial
em Curitiba, mostra que 11 desses produtos tiveram
elevação no valor desde o início do mês, influenciados
pelas intempéries.

[Reportagem: Gabriel Carriconde de Curitiba (PR) |
Brasil de Fato Paraná – Especial 20ª Jornada de Agroecologia (2023) | Edição: Lia Bianchini].

Íntegra em:
https://www.brasilviomundo-br.noticiasdetocantins.com.br/2023/11/01/agronegocio-favorece-desequilibrio-ambiental-e-climatico-diz-pesquisador/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


Leia também